La Famiglia propõe envolver todos os intervenientes numa grande intriga e parodiar sobre as insondáveis motivações que levam cada indivíduo ora a atuar, ora a sentar-se num teatro à espera de algo extraordinário.
O redesenhar de um mundo possível num trajeto mensurável em duração e limitado pelas fronteiras de um palco torna-se aqui o próprio argumento do projeto. Poder-se-ia afirmar que nesta peça a ficção reside somente no facto de fazer o público acreditar que este é imprescindível. Este é mesmo imprescindível, mas também não o é porque, até à chegada desse precioso momento em que está sentado frente a um espetáculo, ele foi sempre e não mais do que uma abstração, uma convenção ou uma espécie de alter-ego da atividade artística. Alguma entidade mais ou menos próxima, como um pai ou uma avó. Mais o menos afastada, como um primo emigrado. Sem dúvida, um relativo que nós é familiar, a quem a obra também pertence. Um relativo a quem nos dedicamos ou de quem nos emancipamos. …um comentário (a)político à (in)evitabilidade da criação artística e uma proposta de renovação das suas motivações.
Este é um evento que resulta da residência artística de Lígia Soares e que se é influenciado pelos resultados de entrevistas realizadas ao público em geral, amantes de arte ou simples curiosos, que recolheram opiniões tendentes à criação de uma personagem. O entrevistado torna-se, assim, um dos autores do espetáculo.